sexta-feira, julho 22, 2011

Perdida na tarde

Para quem já estava com saudades das crônicas da Marília, hoje publicamos mais uma aqui no blog. O tema, claro, é Paris. Marília mais uma vez consegue transformar emoções em palavras, quase nos fazendo sentir o que ela sentiu quando esteve por lá.

Quem nunca esteve por lá (e quem quer voltar) vai ter a oportunidade de ir com a turma da AF no próximo ano, no Frisson em Paris 2012. Afinal, quem for vai ficar justamente ali, em Montparnasse, a parte mais charmosa de Paris. Abaixo, segue a crônica para já ir deixando todo o pessoal com vontade.

--


Perdida na tarde


Aquela tarde em Paris foi como nenhuma outra que tivesse vivido.

Ao sair para a rua, senti o frio no rosto. Fechei o casaco. Coloquei as luvas. Olhei para os lados, parada na calçada. Nenhum plano. À esquerda? Enveredei pela direita, pura intuição. Segui por várias ruas de Montparnasse, 14e  Arrondissement de Paris. Lembrei da lição do livro de francês : tout droit, à gauche, à droite. De qualquer ponto, a Tour de Montparnasse foi a referência: au Sud de la Tour, dans le côté Nord de la Tour, afinal, 210 m de altura se impõem.

Assim, fui caminhando por ruas, ruelas, becos, avenidas, pracinhas. De repente, me vi no passado. Fiz uma viagem no tempo, como na ficção, mas esta era real. Parei nos anos de glória do Quartier Montparnasse – os anos do período entre as duas guerras mundiais. Época em que Montparnasse competia com Montmartre – os dois centros artísticos efervescentes em Paris. Bares, teatros, cafés, ateliers e cabarés alimentavam a vida boêmia dos escritores, pintores, escultores. Pois é, e eu lá, nesse passé plus-que-parfait. Sozinha, conheci-descobri divers établissements. O que mais me chamou a atenção foi a quantidade de teatros, ainda em funcionamento, como o Bobino, o Montparnasse, o Gaité Montparnasse e Le Petit Montparnasse.

Andando pela Rue de Rennes, entrei em um café, para aquecer-me um pouco.

-  Bonjour, monsieur. Un déca, s’il vous plaît.


 Com novas energias, segui pela tarde. Entrei em uma loja de meias, só meias. Um casal de velhinhos me atendeu. Foram tão simpáticos, que saí de lá com diversos pares de meias. Sorte do meu marido.
Em une épicerie, comprei vinhos. O rapaz que me atendeu engatou um papo. Ao satisfazer suas curiosidades, disse a ele: - Moi, je suis venue à Paris pour réaliser le rêve de connaître cette ville merveilleuse. Je lui ai dit aussi que je parlais un petit peu de français encore, mais, dans l’avenir, je le parlerai mieux.
- Où vous étudiez?
 Je lui ai répondu que j’etudiais à l’Alliance Française.
 – Oh! Vous parlez  bien le français. Vous avez un très bon professeur. (Viu, só, Bárbara?) – Quel est votre pays?
 -  Brésil!
 - Pelê! – Rrrrrrrriô!
 Como se isso não bastasse, na despedida ele falou: - Tchau. Obrigado.
 E eu : – Merci .Au revoir. Bonne journée. Disse tudo o que sabia.
Continuei o passeio, agora com as meias e os vinhos.

Reportada às décadas de 30 e 40, fui pisando conscientemente nas mesmas pedras das calçadas em que eles pisaram, eles, Henri Muller, Hemingway, Modigliani, Matisse, Chagall, André Breton, Picasso, F.Scott Fitzgerald. Escritores e poetas franceses juntamente com estrangeiros exilados de seus países fizeram história.

Para completar minha tarde, caminhei pelo Boulevard de Montparnasse, avenida principal desse 14e arrondissement. La Coupole, la Rotonde, Le Dôme et La Closerie des Lilás, os bares e restaurantes mais freqüentados por eles. Ainda hoje transmitem uma aura de magia e glamour.

Outras emoções estariam por vir.

Entrei em uma librairie. Personne! A não ser um jovem, lá no fundo.
–  Bonjour, monsieur.
Bonjour, madame.
Je voudrais les livres, s’il vous plaît, et choisir quelques-uns.
À volonté, madame. Je vous en prie.

 Lentamente, passei meus dedos nas lombadas dos livros. De alguns li as apresentações. De outros eu senti o cheiro, o formato, o peso. E todos escritos em francês! Escolhi o romance Gatsby, de F. Scott Fitzgerald. Sim, aquele escritor que vivia por ali, em Montparnasse, amigo do Picasso, do Hemingway. Sua esposa, a Zelda (Fitzgerald) também era escritora, une femme terrible. Mas isto é outra história ...

De volta ao aconchego do quarto aquecido, no fim dessa tarde, abri o livro e escrevi, na primeira página:

Paris, le 1er février 2011.

Marilia

3 comentários:

  1. Marília mais uma vez emocionante!!! Parabéns e desejo que voltes outras vezes a Paris para nos brindar com textos como este!! Sou tua fã! Beijos

    ResponderExcluir
  2. Muito legal!
    Acabei de ler (há poucos muitos!) "Paris é uma festa", do Hemingway. Recomendo! Belas histórias sobre os anos que passou em Paris, na companhia de Ezra Pound, Scott Fitzgerald, Joyce, Gertrude Stein...

    ResponderExcluir
  3. Marília,

    Tes textes sont toujours merveilleux.

    On retourne à Paris bientôt ma belle?

    je t'embrasse Stela

    ResponderExcluir